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Alunos  Escola Centro de Ensino em Período Integral Maria Ribeiro Carneiro Rio Verde Goiás

Episódio 3 

Patrimônio Público

Caro leitor, se você tivesse que responder a esses questionamentos, qual seria sua pontuação?

- Você já usou o acostamento para fugir de um engarrafamento no trânsito?

-Usa TV a cabo e internet do vizinho?

-Já furou fila?

-E a fila preferencial, já usou alguma vez mesmo sabendo que não tinha direito?

-Comprou algum produto falsificado porque estava muito mais barato?

-Já falsificou carteirinha de estudante para pagar meia entrada?

-E atestado médico falso, já usou?

A última é a melhor...

-Já colou em prova?

E então, como se saiu?

Mas, calma! Essa brincadeira é só pra alertar que se engana quem acredita que a corrupção é um problema só do governo ou que atinge apenas políticos que roubam os cofres públicos. Ela está presente no nosso dia a dia, quando alguém fere um princípio ético ou ignora alguma lei, por menor que seja.

 

Pode ser um jovem que estaciona na vaga de idosos, um agente público que aceita propina para não dar uma multa, um médico que fornece um atestado falso ou mesmo um estudante que fura a fila na hora da merenda na escola. Aí, algum desavisado pode dizer: ah, mas isso são pequenas corrupções!  Não, não existem pequenas corrupções. Corrupção é corrupção!

Segundo o dicionário Aurélio, o termo significa ato ou efeito de corromper-se; decomposição; devassidão, depravação; suborno. Sendo assim, podemos considerar que corrupção é o ato de se utilizar indevidamente de uma posição de influência para obter vantagens ou mesmo realizar alguma ação que é considerada ilegal de acordo com as leis.

E uma criança, será que ela é capaz de praticar atos corruptos? E de combater a corrupção? A resposta é sim para as duas perguntas. Por isso, é tão importante que os pais estejam preparados para falar com os filhos sobre o assunto, afinal a educação vem de casa, dos exemplos dados. Isso quer dizer que tão importante quanto falar de corrupção é ser modelo de integridade no qual a criança se espelha. 

Escola Centro de Ensino em Período Integral Maria Ribeiro Carneiro Rio Verde Goiás.png

E que fique claro que corrupção não é uma bobagenzinha, um deslize qualquer. Um ato corrupto pode afetar diversas pessoas, enfraquecendo, inclusive, a democracia, quando, por exemplo, um político desvia um dinheiro que iria para a saúde, a educação ou a segurança pública. E a escola pode ser um importante apoio na missão de educar transmitindo valores.

Atenta a esse desafio, a promotora de Justiça Renata Dantas, que hoje coordena as Promotorias de Justiça de Rio Verde, resolveu, lá em 2017, quando ainda era titular da 4ª Promotoria, desenvolver um projeto nas escolas de ensino fundamental do município intitulado Educação de Valores.

A ideia nasceu depois que ela constatou que só o trabalho repressivo, de propor ações, não estava tendo resultados na redução dos casos de corrupção que chegavam ao Ministério Público. Assim, tendo como base a prevenção, o projeto nasceu com o lema da cultura da integridade. Para que a ideia não corresse o risco desvirtuar de sua proposta original, Renata Dantas tomou uma decisão ousada: a promotora passou a conciliar as atividades na sede do Ministério Público com idas a salas de aula. Sim, ela assumiu o papel de professora.

“Eu fiquei o ano de 2017 todo só estudando a temática. Aí no final do ano, já havia conseguido elaborar o projeto, pensar como ele poderia ser implementado. E eu pensei, como vou ter acesso a esses estudantes? Vai ser na escola!”, afirmou Renata Dantas.

Através do apoio de equipes pedagógicas e psicológicas, a promotora identificou que a partir dos 7 ou 8 anos os pequenos já manifestam opiniões ou dúvidas a respeito do que ouvem. Isso quer dizer que nesta faixa etária, eles já possuem capacidade de aprender e apreender informações, dando início a conversas mais significativas. Esse foi um dos motivos que levaram à escolha de turmas do sexto ano para a implementação do projeto.

“Eu fiz um levantamento das escolas públicas municipais (à época nós tínhamos 32 escolas) e fiz uma seleção inicial de 12 delas, com diferentes características, para que pudesse ter um comparativo com as demais que ainda não tinham recebido o projeto”, esclareceu a promotora.

Em 2018, o projeto ganhou as escolas e o contato da promotora com os alunos foi mostrando que ela estava certa quando decidiu ensinar pessoalmente às turmas escolhidas. Em cada uma eram ministradas três aulas com abordagens diferentes sobre temas como empatia, ética e família. Mas todas voltadas aos conceitos e práticas envolvidos no tema corrupção. Aos poucos, por meio de exemplos cotidianos, e de desafios propostos para casa, a promotora foi conquistando a confiança dos alunos, que se abriam sobre vivências pessoais.

“Valores a gente aprende primeiro com o exemplo e, depois, colocando em prática. Eu costumo dizer que a família ensina e a escola sedimenta. E foram nas aulas que levamos à reflexão de certas atitudes através de exemplos. E muitos alunos falavam: tia isso já aconteceu comigo”, recordou.

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Renata Dantas conta que sempre buscou mostrar aos estudantes que mesmo pequenos atos de corrupção, o tal do jeitinho brasileiro, seja para furar uma fila na hora da merenda, ou um atestado médico falso na hora de justificar uma falta em dia de prova, constroem a ideia de que a corrupção no Brasil é sistêmica.

Todos esses ensinamentos foram levados para a vida pelo estudante Heverton Douglas dos Santos, que hoje, já adolescente, cursa o ensino médio no Centro de Ensino em Período Integral Maria Ribeiro Carneiro- uma das escolas que recebeu o projeto. Ele lembra com carinho tudo o que foi recebido da promotora.

“Ela passou para nós como respeitar o próximo, ter empatia. Sobre esse negócio de empatia, eu sou goleiro... e de vez em quando eu levo umas boladas dos moleques lá. Aí eu fico meio com raiva. Mas daí eu penso assim, não foi por querer, não preciso ir descontar a raiva que eu fiquei ali no momento. O respeito é a base de tudo”, afirmou. E o aprendizado Heverton não guarda só para ele não. Ele aplica em família.

Vitor Miguel Alves é outro adolescente impactado pelos ensinamentos do projeto Educação de Valores. Ele garante que sua vida mudou desde as aulas de Renata Dantas. “Minha vida antes de 2019 era o caos, eu não conseguia controlar minha raiva, não me colocava no lugar dos outros...e quando eu ouvi o que ela falou, eu quis mudar. E eu estou amando esse novo eu que eu passo para minha família”.

Gisleide Dantas, de 15 anos, que hoje cursa o 1º ano do ensino médio, participou do projeto em 2019 e diz que até hoje continua absorvendo e assimilando o conteúdo que aprendeu nas aulas da promotora Renata. “Quando eu fiz o curso eu não entendia muito. Mas eu fui aprendendo aos poucos o que é ética, respeito pelos outros, ser um bom cidadão”.

Outra fã de carteirinha do Educação de Valores e que segue colhendo bons frutos com os ensinamentos absorvidos pelos alunos do Centro de Ensino em Período Integral Maria Ribeiro Carneiro é a diretora Maria Isabel Almada. No começo, ela confessa que ficou meio desacreditada. “Nossa, eu pensei, mais um projeto? Mas foi um divisor de águas. O que eu gostei muito foi o encantamento dos meninos de conhecer uma promotora. Eu acho que essa aproximação do Ministério Público com a escola é muito importante. Hoje, 5 anos depois a gente vê os frutos”. Ela se diverte ao contar que sempre que percebe alguma atitude em desacordo na escola, brinca que vai chamar a “doutora Renata”.

Em 2020, depois de 2 anos no formato presencial, o Educação de Valores, passou a ser aplicado de forma remota com o apoio da Secretaria Estadual de Educação, que o ampliou para outros municípios do Estado. A partir daí, o projeto virou uma cartilha Educação de Valores; Igualdade, Cidadania e Ética, que foi um dos destaques em premiação do Conselho Nacional do Ministério Público, o CNMP, em 2023. A cartilha conquistou o terceiro lugar na categoria especial Defesa do Regime Democrático.

Cartilha Educação de Valores - MPGO - Ministério Público de Goiás.jpg

“A cartilha foi desenvolvida com base nas aulas. E o meu desejo era dar ao professor a oportunidade de desenvolver uma temática diferente, de uma forma dinâmica, e que ele recebesse praticamente pronto, que não trouxesse mais responsabilidades. Porque eu vejo que a escola hoje é muito cobrada, por questões que às vezes não são propriamente atribuições dela”, observou.

Que baita ensinamento...quantos bons exemplos. Fica aí uma pergunta para nossa reflexão: E você, o que tem a ver com a corrupção? Sem dúvida, pequenas atitudes podem resultar em grandes mudanças.

Temos que ir na raiz e na estrutura. Por isso, ao falar com crianças e adolescentes, buscamos mostrar que, ao evitar corrupções diárias no nosso dia, estamos fortalecendo a base da árvore que vai frutificar ali na frente.

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