Episódio 5 |
Meio Ambiente
Ver a água chegando limpa e abundante todos os dias às nossas torneiras por vezes nos faz esquecer o quanto este bem natural é importante e indispensável à nossa sobrevivência, não é mesmo? A sensação é que ela está ali para ser usada por nós o tempo todo, enquanto quisermos, da forma como quisermos. Na verdade, a gente acaba, muitas vezes, se esquecendo que ela é um bem natural que pode acabar, sim, principalmente se não for bem cuidada.
Tanto é que basta a água começar a faltar ou mesmo chegar turva às nossas casas que a coisa muda de figura, não é mesmo? Não ter como tomar banho, escovar os dentes, cozinhar, lavar a roupa transforma tudo num caos. Pois foi necessário que a escassez de água chegasse às torneiras dos moradores de Serranópolis para que eles começassem a se preocupar.
Por lá, muita gente não sabia sequer a origem da água que abastecia a cidade. Foi só quando as torneiras secaram que os moradores voltaram os olhos para o Córrego do Moranga, responsável pelo abastecimento hídrico do município. Inclusive, o Kleiton Teixeira, que é proprietário da fazenda Matinha, onde fica uma das cerca de dez nascentes do manancial. Acostumado desde criança a ver as bicas da propriedade herdada dos pais transbordando, ele foi percebendo uma diminuição no fluxo d´água. Além do volume, ele começou a reparar também na cor dela, que àquela altura já apresentava uma certa turbidez.
Mas a luz de alerta não se acendeu só para o Kleiton não. A empresa de abastecimento de água em Serranópolis preocupada com a diminuição do fluxo nos reservatórios resolveu procurar o Ministério Público para pedir ajuda em busca de uma solução. Foi aí que, por meio do programa Ser Natureza, que existe há cerca de 15 anos no MP goiano, uma turma entrou em ação e foi em busca do Kleiton e de outros proprietários rurais do município onde ficam as nascentes. O choque de realidade veio de cara. Como conta o dono da fazenda Matinha.
“A gente percebeu pelo volume de água, que foi diminuindo bastante, gradativamente e ficamos preocupados com isso”, afirmou. E acrescentou que, após um Dia de Campo, realizado em sua propriedade, foram feitas explicações sobre como seria a execução do projeto.
Por meio das explicações que recebeu, o Kleiton entendeu que, assim como a ação humana pode interferir negativamente na produção da água ela também pode ajudar na recuperação dos mananciais hídricos. E não estamos falando de nenhum truque de mágica ou método milagroso, mas sim de práticas cotidianas conscientes por parte de toda a comunidade. Começando, sim, pelo proprietário rural, mas também com a colaboração de vários outros agentes, como explica o promotor de Justiça de Serranópolis, Hélio Petroni, que abraçou a causa incondicionalmente.
“Tem vários parceiros o projeto, a Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago), a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), o município e os próprios proprietários. Este é um projeto consensual, então, depende do acordo do proprietário. De outra forma, teríamos que promover ações judiciais, no sentido de obrigar o cercamento das nascentes e plantio das mudas no local”, esclarece, acrescentando que não houve qualquer resistência dos proprietários, pelo contrário: “a comunidade abraçou o projeto e participa de todas as etapas, pois sabem da importância do projeto”.
Ele destaca ainda que o Ser Natureza é referência no Ministério Público de Goiás, mas também nacionalmente. Hélio Petroni fica orgulhoso ao explicar que quando o MP realiza esse trabalho extrajudicial de autocomposição evita uma série de burocracias para quem adere à ideia. Nesse sentido, ele também deixa claro o papel fundamental da Coordenadoria de Assessoramento à Autocomposição Extrajudicial e Judicial do MP, a CAEJ.
“A equipe da Caej, em especial as servidoras Gabriella Parrode e Maria José Soares, e também a secretária da Promotoria, Sandra Alves Silva, não medem esforços pra tocar esse projeto. Sem elas, esta iniciativa não seria possível aqui na comarca”.
Claro que lendo essa história, pode parecer, assim, que foi tudo muito rápido e fácil. Só que não! Um processo como esse não tem como ser simples. Ele envolve muita gente e pode levar anos. O promotor Hélio Petroni faz questão de frisar que se os frutos colhidos até agora com o Ser Natureza em Serranópolis não tiverem uma sequência tudo pode voltar à estaca zero. “Isso depende da fiscalização do Ministério Público e dos demais órgãos ambientais, a fim de que estas mudanças possam ser permanentes”.
No caso específico do Córrego Moranga, a união de esforços valeu muito a pena, já que os primeiros resultados já são visíveis na prática. As bicas lá da Fazenda Matinha, por exemplo, já voltaram a jorrar como na época da infância do Kleiton, como ele mesmo lembra. “A gente já notou esse aumento da água”.